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11 de maio de 2011
Energia nuclear é coisa do mal ou do bem?
(por Mônica Martins)- Envolverde Jornalismo & Sustentabilidade
O mito de que usinas nucleares não são perigosas caiu de vez. O mundo discute o que fazer com mais de 400 usinas em funcionamento, quais alternativas já existem para substituí-las, e se vale a pena gastar bilhões para construir outras. Afinal, verdade seja dita, a energia nuclear tem a proposta da luz, mas assombra com o risco da morte.
Em sua visita ao Brasil, o presidente Barack Obama, anunciou seus objetivos: investir em fontes alternativas para libertar a indústria norte-americana da dependência do petróleo e de outras matérias-primas não renováveis.
A sinalização do presidente dos Estados Unidos, somada ao acidente nuclear de Fukushima, no Japão, esquentou o debate mundial sobre a utilização segura da energia nuclear. Haveria opções mais “limpas” para resolver o grave problema energético pelo qual passa o mundo?
A China, que tem um vasto programa nuclear, já pisou no freio, revendo a velocidade de instalação. A Alemanha suspendeu a prorrogação da vida útil de alguns reatores e irá estimular a produção de energia renovável. A Suíça cancelou licenças. A Áustria já pediu novas provas de resistência às empresas que industrializam a energia nuclear. E a Itália, para refletir melhor, suspendeu por um ano a construção de novas usinas. No Japão, evidentemente, a pressão popular será ainda maior.
No Brasil, antes do acidente de Fukushima, a presidente Dilma Rousseff pretendia anunciar quatro novas usinas nucleares (duas no nordeste e as outras no sudeste), com construção prevista para até 2030. O anúncio só não veio a público por conta da crise japonesa.
Em homenagem aos 25 anos do acidente de Chernobyl, Rio de Janeiro e São Paulo fizeram dois importantes debates sobre como acabar com a energia nuclear no Brasil. Se é pelo plebiscito ou Lei definitiva. O primeiro encontro teve a participação da ex-candidata à presidência, Marina Silva. E o segundo foi articulado por professores da USP. A tendência é que a sociedade, Ongs e partidos políticos afins, unam forças para pressionar o governo a redirecionar o programa nuclear brasileiro.
É bom lembrar que já temos duas usinas instaladas no país (Angra I e II), ambas no estado do Rio de Janeiro, e que uma terceira está sendo construída lá.
Mas, afinal de contas, será que o país vai continuar com seu programa nuclear? Irá a presidente Dilma na contra-mão do mundo? Só o tempo dirá. É bem possível que o Planalto esteja apenas esperando a poeira baixar para dar a notícia da expansão do programa nuclear brasileiro.
É difícil saber. Mas há quem arrisque dizer que o programa continua. O físico nuclear José Goldemberg acha que o desastre de Fukushima será um divisor de águas. Depois disso, ninguém poderá dizer que reatores nucleares não são perigosos sem ouvir uma chuva de protestos. “As pessoas já tinham se esquecido do terror do acidente de Chernobyl”, lembra o professor da USP. Aliás, o setor estava em plena expansão.
O episódio do Japão deu um breque nisso. Fez o mundo cair na real de que reatores nucleares são vulneráveis, e que é impossível prever todos os tipos de acidentes que podem acontecer. Um avião pode cair, um reator pode derreter, ninguém tem bola de cristal.
Toda essa incerteza vai influenciar a adoção de novas medidas de segurança. O que significa maiores gastos. Assim, a energia nuclear pode perder para o quesito competitividade, já na largada desse novo cenário.
Por outro lado, o preço da energia nuclear pode ficar mais atrativo, caso o carvão ou gás forem sobretaxados, como pensam alguns países, como medida punitiva à emissão de dióxido de carbono. É preciso entender que o dióxido de carbono é um dos responsáveis pelo aquecimento da Terra, enquanto os reatores nucleares, em funcionamento normal, não emitem esse gás.
No entanto, Goldenberg, que foi eleito pela revista Times como um dos “Heróis do Meio Ambiente”, em 2007, aponta outro problema dos reatores nucleares.
É preciso garantir a segurança no suprimento de materiais energéticos, como o urânio, para usinas nucleares.
Certos países, como Japão e França, que não dependem tanto de importações de carvão ou de gás natural, ficam dependentes da importação do urânio enriquecido. Se acontecer algum imprevisto, toda a produção fica comprometida.
O problema maior, sem dúvida, é o risco de acidente. Isso pode causar impactos no ambiente e ameaçar a vida humana por causa da radioatividade, que socializa o ônus do acidente para todos os países, uma vez que não é possível conter sua repercussão pelo ar ou água.
O professor chega a dizer que o risco de acidente é o “calcanhar de Aquiles” da energia nuclear. Claro que em outros processos produtivos de energia também há riscos. Seja na mineração do carvão ou nas usinas hidrelétricas, acidentes causam mortes e outros problemas, como a mudança de populações de lugar.
No entanto, a radioatividade que é liberada em acidentes nucleares causa não só mortes imediatas. O câncer, que pode se manifestar anos depois, é um triste desdobramento da radioatividade. Em Chernobyl, depois de 25 anos, peixes ainda são encontrados com contaminação.
Agora, mais do que nunca, escolher a fonte de energia mais adequada depende, portanto, de uma comparação entre os benefícios, os custos e riscos que ela provoca e envolve.
No Brasil, segundo o professor, a energia nuclear pode ser tranquilamente dispensada, figurando como última opção a ser adotada. “Há abundância de recursos naturais no país”, enfatiza. A energia nuclear pode ser uma boa opção para países como França, por exemplo, que não dispõe de tantos recursos.
Fazendo um comparativo, o professor revela um dado interessante. Quando Angra 3 ficar pronta, a produção de energia não baterá a conseguida pelo bagaço de cana gerado em São Paulo. A produção bate a casa dos 2 milhões de kilowatts. Precisaria de dois reatores nucleares para gerar a mesma quantidade.
Pondo tudo na ponta do lápis, o professor José Golbenberg não tem dúvidas. O país deve apostar todas suas fichas na biomassa e nas hidrelétricas.
Porém, a maioria dos especialistas concordam que o Brasil não pode ficar à mercê de outros países. É preciso nacionalizar alguns equipamentos usados no processo de energia renovável.
É o caso dos painéis fotovoltaicos. Mandamos o silício bruto para fora para depois os comprarmos a altos custos, onerando sua produção. Uma redução dos impostos sobre esses equipamentos também seria um paliativo a se discutir.
As energias renováveis são aclamadas pela sociedade e por ambientalistas pela capacidade que têm de se regenerar. O sol, recursos hídricos e os ventos, por exemplo, são inesgotáveis e estarão sempre disponíveis. Mesmo que algumas delas ainda tenham caras infra-estruturas, ainda podem se adequar, e são uma grande aposta para o futuro.
E para você, qual é melhor? A energia nuclear ou renovável? Muito além da balança do bem e do mal, seus aspectos positivos e negativos estarão na pauta de importantes discussões da matriz energética mundial.
* Mônica Martins é articulista das editorias de tecnologia e meio ambiente do IOB-Negócios. Escreveu matérias de capa sobre qualidade e meio ambiente para publicações como a Banas Qualidade e Qualimetria (revista da FAAP). Foi assessora de imprensa no Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT) por 17 anos, tendo elaborado a sua política de comunicação e sistema integrado de atendimento a clientes. Integrou o Núcleo Executivo de Qualidade e de Treinamento na Fundação Vanzolini, da Escola Politécnica da USP. Fundou a Alfa Centauro Comunicações, agência responsável p ela comunicação corporativa digital da Lucent Tecnologies/Avaya Communication, subsidiárias do Bell Labs. Entre outras atividades, elaborou conteúdo para sites de clientes da Tradecom Comunicação, Uniconsult e Assembléia Legislativa de São Paulo.
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