16 de março de 2009

Água e Envelhecimento...

Por Arnaldo Lichtenstein (46), médico, é clínico-geral do Hospital das Clínicas e professor colaborador do Departamento de Clínica Médica da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP).

Sempre que dou aula de Clínica Médica a estudantes do 4º ano de Medicina, lanço a pergunta:

"Quais as causas que mais fazem o vovô ou a vovó terem confusão mental?"

Alguns arriscam:

"Tumor na cabeça".

Eu digo: "Não".

Outros apostam:

"Mal de Alzheimer".

Respondo, novamente: "Não".

A cada negativa a turma espanta-se. E fica ainda mais boquiaberta quando enumero os três responsáveis mais comuns: diabetes descontrolados; infecção urinária; a família passou um dia inteiro no shopping, enquanto os idosos ficaram em casa.

Parece brincadeira , mas não é .

Constantemente vovô e vovó, sem sentir sede, deixam de tomar líquidos.

Quando falta gente em casa para lembrá-los, desidratam-se com rapidez .

A desidratação tende a ser grave e afeta todo o organismo. Pode causar confusão mental abrupta, queda de pressão arterial, aumento dos batimentos cardíacos ("batedeira"), angina (dor no peito), coma e até morte.

Insisto : não é brincadeira . Ao nascermos, 90% do nosso corpo é constituído de água.

Na adolescência, isso cai para 70% .

Na fase adulta, para 60% .

Na terceira idade, que começa aos 60 anos, temos pouco mais de 50% de água.

Isso faz parte do processo natural de envelhecimento.

Portanto, de saída, os idosos têm menor reserva hídrica.

Mas há outro complicador: mesmo desidratados, eles não sentem vontade de tomar água, pois os seus mecanismos de equilíbrio interno não funcionam muito bem.

Explico : nós temos sensores de água em várias partes do organismo .

São eles que verificam a adequação do nível.

Quando ele cai, aciona-se automaticamente um "alarme”.

Pouca água significa menor quantidade de sangue, de oxigênio e de sais minerais em nossas artérias e veias. Por isso, o corpo "pede" água.

A informação é passada ao cérebro, a gente sente sede e sai em busca de líquidos.

Nos idosos , porém , esses mecanismos são menos eficientes .

A detecção de falta de água corporal e a percepção da sede ficam prejudicadas.

Alguns, ainda, devido a certas doenças, como a dolorosa artrose, evitam movimentar-se até para ir tomar água.

Conclusão: idosos desidratam-se facilmente não apenas porque possuem reserva hídrica menor, mas também porque percebem menos a falta de água em seu corpo.

Além disso, para a desidratação ser grave, eles não precisam de grandes perdas, como diarréias, vômitos ou exposição intensa ao sol.

Basta o dia estar quente - e o verão já vem aí - ou a umidade do ar baixar muito - como tem sido comum nos últimos meses.

Nessas situações, perde-se mais água pela respiração e pelo suor.

Se não houver reposição adequada, é desidratação na certa.

Mesmo que o idoso seja saudável, fica prejudicado o desempenho das reações químicas e funções de todo o seu organismo.

Por isso , aqui vão dois alertas .

O primeiro é para vovós e vovôs: tornem voluntário o hábito de beber líquido. Bebam toda vez que houver uma oportunidade.

Por líquido entenda-se água, sucos, chás, água-de-coco, leite.

Sopa, gelatina e frutas ricas em água, como melão, melancia, abacaxi, laranja e tangerina, também funcionam.

O importante é, a cada duas horas, botar algum líquido para dentro. Lembrem-se disso!

Meu segundo alerta é para os familiares: ofereçam constantemente líquidos aos idosos.

Lembrem-lhes de que isso é vital.

Ao mesmo tempo, fiquem atentos.

Ao perceberem que estão rejeitando líquidos e, de um dia para o outro, ficam confusos, irritadiços, fora do ar, atenção.

É quase certo que esses sintomas sejam decorrentes de desidratação.

Líquido neles e rápido para um serviço médico.

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